Introversão vs. Extroversão no mundo profissional

 

Episódio 4

Rótulo : introvertida
QUAIS OS PRINCIPAIS INGREDIENTES deste rótulo ?

Recebi desde cedo a etiqueta de introvertida e tenho usado esse autocolante preso à minha roupa, apesar de nem sempre encaixar nesse rótulo.

Quais os ingredientes deste rótulo? Reservada, tímida, sensível, calma, observadora, pouco faladora. Uma composição de adjectivos e características que moldaram a percepção dos outros em relação a mim e também a minha atitude para com as pessoas.

 
 
 
 
 

E o que significa isso de ser introvertido?

Para mim, está relacionado com o desconforto que pode gerar um determinado contexto, situação ou interação, ou a preferência por um determinado ambiente, actividade ou forma de socialização.  

Não sou a pessoa que chega a um grupo e que automaticamente conduz as conversas, nem a que orienta os focos de luz para si. Sou antes a que opta por observar, por ouvir, por analisar o ambiente e que demora a ousar intervir. Quando me sinto mais confortável, gosto muito de fazer parte, de falar e até de arriscar com algum humor, que por vezes funciona, outras não.

Não anseio por grandes ajuntamentos sociais com pessoas mais conhecidas ou menos conhecidas. Esses momentos são capazes de me roubar energia e há vezes em que tenho vontade de partir, mesmo antes de chegar. Encontro algum conforto em momentos em que possa estar sozinha, até porque é onde encontro o espaço físico e mental para escrever, algo que tanto gosto de fazer. Funciona como carregador de baterias sociais.

No entanto, não procuro a solidão, acho que me situo algures entre o bulício frenético de grandes eventos sociais e o isolamento. Gosto de estar nesse ponto intermédio, podendo visitar cada um dos lados quando necessário ou quando se proporciona.

 
 
 
 
 
 

E como se traduz um ser e estar mais introvertido no mundo profissional?

Quando naveguei pelo universo corporativo, lembro-me da angústia que era cada vez que tocava o telefone ou quando era eu que tinha de fazer incontáveis chamadas, logo eu que não sou fã de falar ao telefone, como dá para imaginar.

E as grandes reuniões com pessoas que não acabavam mais? Preferia os momentos em que estávamos a absorver informação de apresentações do que os coffee-breaks, esses instantes intermináveis de conversa de circunstância em que era necessário interagir com quem se cruzava connosco à espera de vez para se servir de café ou de biscoitos.

E se havia momentos de trabalho em que dividiam a audiência em subgrupos? Eram sempre o mais heterogéneos possível, como ditavam as regras para um bom facilitador de reuniões. Aumento imediato da frequência cardíaca e forte vontade de fugir.

Havia também os famosos quebra-gelo nos inícios de formações ou ajuntamentos similares de pessoas praticamente desconhecidas. A vontade não era a de quebrar o gelo, mas sim de embater no primeiro iceberg, qual Titanic, para me afundar de imediato nas profundezas do oceano.

 
 

Curioso que, quando era eu que vestia a pele de formadora, apesar de alguns calafrios na barriga antes do embate inicial com a audiência, não me sentia tão desconfortável. Talvez porque tivesse mais conhecimento e mais controlo sobre a forma como iria decorrer esse dia.

Os momentos de interação com grupos mais reduzidos ou em 1 para 1 eram também alturas em que sentia maior conforto e em que me permitia estar mais à vontade com a minha verdadeira forma de ser e estar.

As fases de pensamento, planeamento, criação, execução de conteúdos, materiais, suportes e formas de implementação eram aquelas onde me sentia mais como peixe na água. Aí podia dar mais asas à imaginação e à criatividade e, quando tinha sorte, podia até soltar a minha pena e escrever.

 
 
 
 

Seremos 100% Intovertidos ou Extrovertidos? Que desafios se colocam?

As pessoas essencialmente extrovertidas terão certamente os seus desafios, podem eventualmente sentir maior necessidade de estímulo, dificuldade em manter o foco e concentração, gerir a energia e impulsividade.

No entanto, sinto que talvez este mundo profissional de que falo esteja mais talhado para procurar, aceitar e valorizar quem usa o crachá da extroversão.

Talvez as características de quem é extrovertido vão mais ao encontro do que se procura nas habilidades e competências de grande parte das actividades e ambientes profissionais. Ter boa capacidade de comunicação, ser ousado, ter competências de liderança, ter gosto por trabalhar em equipa, identificar-se com ambientes dinâmicos, ser sociável são algumas das que me vêm à cabeça e que costumam aparecer em anúncios de recrutamento.

Certamente que os mais frequentemente introvertidos (neste caso vou também incluir-me neste grupo) terão competências que serão valiosas em certos ambientes profissionais. Talvez a capacidade de observação, análise, escuta, ponderação possam ser muito úteis em determinadas actividades, talvez possam vir suprir lacunas em equipas onde predominam profissionais extrovertidos, talvez possam trazer equilíbrio num mundo profissional onde diria que impera a extroversão.

 
 

Na realidade, não considero que sejamos 100% pertencentes a um extremo ou a outro: introvertidos vs. extrovertidos, acho que todos podemos ter situações em que nos encontramos mais próximos de um lado ou do outro da introversão/extroversão, com atitudes, reacções, sensações ou emoções mais características de um ou de outro lado.

Creio que não se tratará de nos limitarmos pelo que está impresso no rótulo que nos colam, mas sim perceber que ingredientes fazem, de facto, parte da nossa forma de pensar, sentir e agir, valorizá-los e respeitá-los. Por outro lado, podemos também identificar os ingredientes que não correspondem às nossas características, nem à nossa realidade, descolar esses atributos ou até, quem sabe, reescrever o nosso rótulo.

Em última análise, entender a dinâmica entre introversão e extroversão, compreender as suas particularidades, desafios, trunfos, diferenças e complementaridades no nosso universo profissional pode ser muito proveitoso e conduzir a um maior equilibro e bem-estar laboral.

 
 
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